O dono dos olhos mais bonitos que já vi não tem os olhos mais bonitos do mundo. Nem fala só por eles. O dono dos olhos mais bonitos que já vi tem uma simetria, na minha matemática, perfeita.
Quando ele fecha os olhos por uns segundos e me sorri entre bochechas e dentes é a coisa mais linda que quero ter por perto naquele momento. Esses olhos são cheios de dedos e acredito sim, que com o tempo terão mais tato.
Ai, esses olhos negros. Pouco me importa o que vocês acham e quantos olhos vão recriminar este texto. Prestem atenção, todo mundo deveria uma vez na vida ter um par de olhos daqueles. Não na cara. Não na nuca. Mas à sua frente e ao seu lado, sempre.
Esses olhos são tão puros que em momentos de atrito, de conflito, a voz rude e os movimentos mais bruscos chegam a descombinar momentaneamente a simetria. Eles devem ser nutridos pelo coração, pois o corpo baqueado demonstra que ali ainda há vida, mas somente nutrida pelo coração.
E o olhos sobrevivem. Também os ouvidos, o nariz, as mãos, as pernas e sofridamente a boca revelam ainda ter vida. Mas nenhum órgão é visivelmente tão puro como aquele par de olhos (talvez por não emitirem som).
O único alívio e também pesar, é que tudo é nutrido e velado pelo coração. Ele sim tem foco, força nas pernas e fome de vida melhor. Parceiros, irmãos. Vivem os dois juntos, os olhos e o coração.