terça-feira, 29 de junho de 2010

Além do tempo


Mão gelada e bochechas e olhos espremidos. Boca cerrada, punho cerrado, pés contorcidos. E com a sensação mais filha da puta que já senti. Foi pior que a gaia, que a traição. É essa sensação de impotência com enjôo de vômito. Eu não fui traída, não havia mais nada além do amor e das cobranças excessivas. Eu só queria viver até o fim o que me coubesse! Porra, Maiakóvski! Tu me faz sonhar projetos utopicamente possíveis. Utopia aos 23 anos é ingenuidade, aos 18 é burrice. Contos de fadas não existem. Acabou, Luanda. Nada de almoçar feijoada e passar a tarde rolando na cama. Pra que fotos? Rasga, esconde. Atitudes assim já são uma pedra de gelo a menos no copo de whisky.


Vida que segue.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Amor mais que discreto







Depois de um tormento vem sempre a calmaria, 
o mar cheio e tranquilo, calmo. Cinza como o céu. 

Como distinguir algo do gênero durante o inverno?


Deve ser pela grama bonita e verde ou
 solos encharcados, úmidos, adubados -


com minhocas boiando para os cágados
 (como numa noite feliz, de festa e vernissage).

A cada cerrar de olhos, uma lembrança 
digna de ser escrita nas paradas 
escolhidas pelo sinal fechado.

E no calor abafado que só o inverno 
pernambucano tem nos poucos dias de sol, 

é preciso correr à sombra, para que 
eu tenha uma falsa estabilidade 
um pouco mais agradável 

e te esperar sem agonia
com o juízo no sol.




sexta-feira, 18 de junho de 2010

Dono de um superego





Uma cortina de dentes, limpos com vanish. 
Narinas com radar pós-chapeuzinho 
e olhos elogiados pelo oftalmo.

Senhor perfeito existe e é curiosamente um bom colecionador de imperfeições. Ele tem voz embargada, de quem coleciona noitadas regadas a muito whisky e cigarro. Também revela marcas que queria esconder: o olhar e atitudes brutais revelam um certo dengo, mas só depois de muita ação. 

É a idade. É o cansaço.
O cansaço da idade. 

E é apenas no ponto fraco, na hora do cansaço, que ele se mostra verdadeiramente por inteiro. Talvez seja a preguiça de falar, ou como quando me conta tudo com os olhos. 

Olhar de raio-x, 
daqueles que 
perfuram a alma,

até o intestino e diz coisas que não seriam faladas em anos.

Ele também é detentor de todas as qualidades e defeitos de todos os outros que já tive, que já passaram por mim e, também, fui passageira na vida deles, há uma coleção à parte de sua história pessoal. Sua própria história o faz agir assim. 

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Desaforo




Dinheiro compra tudo, até atenção.
Compra carro, compra almoço,
grifes caras, o respeito, 
tempo livre e quiçá 
um pouco de amor.