quinta-feira, 14 de junho de 2012

Despertando com Maiakovski



Eu queria ter a destreza e a leviandade que as pessoas aclamam com tanta veemência ter. É muita propriedade para tentar burlar o nada de si mesmo. E se as palavras ilustram e guiam o destino e o caminho de um homem, esse poema cai como uma luva.

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Adolescente
(Tradução de Haroldo de Campos)

A juventude de mil ocupações.
Estudamos gramática até ficar zonzos.
A mim
me expulsaram do quinto ano
e fui entupir os cárceres de Moscou.
Em nosso pequeno mundo caseiro
brotam pelos divãs
poetas de melenas fartas.
Que esperar desses líricos bichanos?
Eu, no entanto,
aprendi a amar no cárcere.
Que vale comparado com isto
a tristeza dos bosques de Boulogne?
Que valem comparados com isto
suspirosante a paisagem do mar?

Eu, pois,
me enamorei da janelinha da cela 103
da "oficina de pompas fúnebres".
Há gente que vê o sol todos os dias
e se enche de presunção.
"Não valem muito esses raiozinhos"
dizem.
Eu, então,
por um raiozinho de sol amarelo
dançando em minha parede
teria dado todo um mundo.

Vladimir Maiakovski

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