sexta-feira, 12 de julho de 2019

12 de julho de 2019

Nos últimos dias voltamos a nos falar e do inferno ao céu eu consegui nos visualizar. Agora, provo desse azedume espesso que sinto ao raspar os dentes em minha língua. Acordei doente, já levo dois dias me tremendo quando penso em tudo que tenho para dizer. O lado direito do meu corpo dói, certeza que se eu comentasse você soltaria alguma piada ruim sobre seu companheiro de apartamento que trabalha vendendo colchões e mora no interior. Você insiste em me perguntar: quer me dizer alguma coisa, Luanda?

Quando estamos razoavelmente bem você me chama de Lua, “quer falar alguma coisa, Lua?”, como um garoto que tenta convencer a mãe que o feito de assistir Tela Quente não é tão tarde assim e que em nada irá prejudicar na ida ao colégio na manhã seguinte. O meu irmão me chama de Lua quando quer algum favor. Mas você é diferente. Parece que o ato de me chamar pelo apelido provoca coisas inquietantes. Parece que ao abrir a boca, correndo pela rua tentando chegar à psicóloga você me convence. Seu timbre, seu tom de voz me preenchem. Qualquer amante viril classificaria isso aqui como basura. Só para combinar eu poderia arrotar esse gosto ocre que retomou à face.

Você insiste em se afastar. Apesar de falar comigo o dia inteiro. Ontem você foi à yoga com cinco meses de atraso. Atraso de presença física e espiritual. Não o de inadimplência. Fechei os olhos e fiquei sentindo tua voz falando que entrou em uma sala fedorenta. Não sei até que ponto meu corpo entrevado deve aguentar esse movimento diminuto, que não vem dos barcos, mas da vontade de te admirar.

Joguei a caixa de ovos fora, guardei o furioso foda-se em algum lugar do passado, talvez na gaveta junto com o caderno com um poema mixuruca que antecedia o São João. Este, guardo pro fim do mês, ainda não acredito que vou te entregar em mãos.

As pessoas não gostam de ser olhadas

As pessoas não gostam de ser olhadas

Hoje, no laboratório, na espera para colher sangue havia um rapaz franzino, raquítico, de cabelo raspado. Fiquei imaginando se ele era assim de nascença ou se, obviamente, estava com alguma enfermidade.

Peguei o celular do bolso, mas antes abri a bolsa para verificar pela enésima vez se a amostra de urina havia vazado ou caído do bolso lateral interno da bolsa que eu levava.

Vejam só, entre vazar e cair há uma diferença enorme, talvez atrapalhasse o cronograma de afazeres de toda a minha semana, sem contar no horror que estou sentindo desde que coloquei essa imitação barata, de plástico, de tubo de ensaio na minha bolsa.

Após verificar pela quarta vez que ele estava lá, em pé, envolto nas instruções impressas que a recepcionista me deu ontem, percebi que o celular não estava na bolsa, e sim no bolso direito traseiro da calça jeans.

Parece que fiquei no celular mais de duas horas, aguardando ser chamada, mas nos primeiros 10min perdi o interesse. Verifiquei todas as redes, enviei dois emails, escrevi no Twitter na esperança que alguém me lesse. Enviei mensagem no Instagram a um amigo que gosto muito. Ignorei alguns parentes no Messenger. Outros tantos no WhatsApp.

Vi um quadro bonito. Parecia antigo, ao menos minha memória traumaticamente afetiva assim deu o parecer. Parecerista de quadros dá o nome de um livro curto, de contos ruins, de uma menina que se apaixonou por um rapaz no Rio de Janeiro.



Recife, 04 de abril de 2019.
                  (segunda carta)

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Ojalá


Ojalá el amor me encuentre
tomando mi cerveza favorita
en la ventana favorita
de mi bar predilecto
de la ciudad.
Aunque no me lo encuentres,
piénsalo: cambia de ciudad
pues estaré en el balcón
coqueteando el camarero
como si allí no estuviese
por siempre a te esperar.