terça-feira, 26 de junho de 2012

O tempo no sushibar


Embora meu agora
seja diferente do seu
é esse que eu vivo
esperando pelo teu.

Esperar é forma de dizer
de que se não for
sei lá, pode ser.

E dessas minhas
perfeitas indecisões
bem sabes, o que meu
sei lá quer te dizer.

Que pode ser e será
mas não agora, nem amanhã
tem que ser breve
como uma garrafa d'água leve

ou um curto espaço de tempo
de acabá-la e fazer
um outro mesmo pedido
ao garçom do sushibar.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Precisa-se

precisa-se de homens
com H maiúsculo
e se houver defeito
que não seja do calcanhar
que seu pronto fraco
não sejamos nós

sexta dilacerante




que agonia
que dor na testa
não aguento mais sangrar

fecho os olhos e tudo pesa

respiro fundo e a zuada
do ventilador parece competir
com o cansaço dos pulmões

que dor é essa?
que merda é essa?

onde fui enfiar
minhas estribeiras,
que não consigo
mais achá-las

não que me façam falta
só para constar.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Despertando com Maiakovski



Eu queria ter a destreza e a leviandade que as pessoas aclamam com tanta veemência ter. É muita propriedade para tentar burlar o nada de si mesmo. E se as palavras ilustram e guiam o destino e o caminho de um homem, esse poema cai como uma luva.

--

Adolescente
(Tradução de Haroldo de Campos)

A juventude de mil ocupações.
Estudamos gramática até ficar zonzos.
A mim
me expulsaram do quinto ano
e fui entupir os cárceres de Moscou.
Em nosso pequeno mundo caseiro
brotam pelos divãs
poetas de melenas fartas.
Que esperar desses líricos bichanos?
Eu, no entanto,
aprendi a amar no cárcere.
Que vale comparado com isto
a tristeza dos bosques de Boulogne?
Que valem comparados com isto
suspirosante a paisagem do mar?

Eu, pois,
me enamorei da janelinha da cela 103
da "oficina de pompas fúnebres".
Há gente que vê o sol todos os dias
e se enche de presunção.
"Não valem muito esses raiozinhos"
dizem.
Eu, então,
por um raiozinho de sol amarelo
dançando em minha parede
teria dado todo um mundo.

Vladimir Maiakovski