sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Bater é afeto, xingar é amor.




Você é gentil, obrigada por me ignorar. Prefiro interpretar esses sinais como gentileza. Afinal você nos poupou de todo o drama, deixando apenas a mim decidir se haveria drama solo ou ressacas com drama. Você é gentil, mas é egoísta. 

Você é gentil, egoísta, e eu devo ser louca. Não completamente louca, mas aquele dedinho de loucura que faz toda adolescente parecer desatinada. Não sou mais adolescente, mas a medida é a mesma. Se fosse amor seria mais fácil de explicar. Tem dias que eu acho que é, tem dias que eu acho que não. Pessoas experientes, com filho, compartilham coisas no Facebook sobre o amor e o desamor, elas falam que se você está na dúvida, não deve ser amor. Eu sempre achei o contrário.

Nunca soube explicar direito porque amei fulano, aquele Fulano mega estúpido e idiota, e eu amava. Ou achava que amava. 

O bonito da vida é isso: ver a evolução do amor e ver a evolução que o amor nos traz. Não quis nunca ter aquela sorte fodida de livros e filmes que se tem um amor só pra toda vida. Já tive um, não mais que um, talvez você seja o segundo. Não sei. 

(Só de escrever isso sinto uma revolução na barriga e um arrepio no braço... procuro sempre explicações plausíveis pra tudo nessa vida, a revolução pode ser do regime de fome que ando fazendo, o arrepio pode ser porque no nosso Recife louco, hoje choveu e, está frio lá fora. Meu lado esquerdo está vibrando de ansiedade enquanto engulo com dificuldade o resto de saliva com gosto de café.)

Faz muito tempo que não escrevo e se voltei a escrever, você realmente deve significar algo. Veja só, se o amor amadureceu em mim, a escrita também, agora consigo escrever sem lágrimas, eis aqui uma nítida evolução em meio a tanto desatino. Não sei se o tempo se apresenta a mim como um aliado, realmente não sei. O fato é que ele está sempre presente, correndo e me desafiando a postergá-lo. Não sei quando vou te ver novamente e se quando a gente se vir eu devo agir como se o tempo não houvesse passado. Aliás, eu sei como vou agir. O problema é que sempre espanto os caras que gosto pelo meu modo de agir. 

Veja só, eu não tenho medo ou problemas em demonstrar como eu me sinto. O problema é que a pessoa vai se sentir como se houvesse um holofote na cara, um sol inteiro só pra si. E que não venham me dizer que é problema do meu signo, pode até ser, mas sou assim.

Isso me lembrou uma história com um ex que na época nem namorado havia chegado a ser. A gente tava de mimimi na pracinha perto de casa e o cabra vem e fala:

 – Lulu, acho melhor a gente não ficar mais.

Primeiro, que apelido é esse, Lulu? Voltei ao jardim da infância? Nunca gostei desse apelido na escola, onde os pirralhos faziam analogias ao meu nome sempre fazendo-o magicamente derivar para Lulu, Luluzinha, A-Lua-Anda, etc. Eu, perplexa, e com raiva daquela rasteira no meu território, tão perto de casa, repeli:

– Mas porque, Fulano? Eu gosto tanto de você.

E o cara escroto veio com um papo nada a ver dizendo que a gente deveria ter uma relação aberta, que eu deveria ficar com outras pessoas e que era o que ele iria fazer. O amor na modernidade tem um tempo e ritmo únicos, só sentindo pra saber. 

Como todo recifense moderno o rapaz dava uns perdidos, sumia. Eu, que sempre interpretei as coisas erradas, entendia esse sumiço como falta de coragem para terminar a nossa não-relação boazinha, e o que eu fiz? Achei que estava livre e fiquei com outras pessoas:

– Eu não sabia que a gente tava ficando ainda. Eu fiquei com outros caras.

– Como é?

– É po, tu sumiu, eu não sabia. Veja só vei, eu quero ficar só com você. Eu gosto de você.

– Mas eu achei que tu tava apaixonada, que porra é essa de outros caras?

O final da história não é de novela, obviamente. A gente se separou e cada um seguiu sua vida. 

Pois bem, se o tempo pode não ser um aliado, a má-interpretação é rainha em minha vida, então como eu poderia expressar a medida exata do meu querer? Sentimento não tem controle remoto pra dar uma pausa, respirar e controlar a temperatura. Na verdade, o preço de ser sincero é a solidão.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cevando estereótipos

 
 
 
 
Você chega cedo no estágio pra adiantar o serviço e sair mais cedo pra aula das 14h na universidade e o monitor não pega.

Um adendo:Você mexe nos fios, esperneia, quase chora, quando finalmente cede para si e fala pra secretária: liga pra Informática por favor e chama um técnico que eu acho que quebrei o monitor.
 
Chega o rapaz da Informática, visivelmente mais jovem que você, com cara de sono:
 
- Bom dia, o que foi que houve?
 
- Moço, acho que quebrei aqui, não tá ligando o monitor.
 
O rapaz fica olhando para minha bancada por exatos 10s, se baixa, liga a tomada e diz:
 
- Pronto, da próxima vez só nos contate após ligar o interruptor da extensão.