quinta-feira, 23 de dezembro de 2010



Olvidemos 
el llanto 
y empecemos de nuevo, 
con paciencia, 
observando a las cosas 
hasta hallar la menuda diferencia 
que las separa 
de su entidad de ayer 
y que define 
el transcurso del tiempo y su eficacia. 

¿A qué llorar por el caído 
fruto, 
por el fracaso 
de ese deseo hondo, 
compacto como un grano de simiente? 

No es bueno repetir lo que está dicho. 
Después de haber hablado, 
de haber vertido lágrimas, 
silencio y sonreíd: 

Nada es lo mismo. 
Habrá palabras nuevas para la nueva historia 
y es preciso encontrarlas antes de que sea tarde.


(Ángel González)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Três meses

   
   
 À uma amiga



É menina, tua máscara caiu
já não te reconhecem mulher.

Tuas atitudes remetem à infância
e teu choro à angústia primária.

Roubaram teus sonhos e 
te deixaram apenas o egoísmo 
o desespero de reavê-los 

Pondera, pensa e chora.
De que vale a falsidade?
A mesquinhez? 

Se no fim das contas te vês 
só em menos de um mês

Renegar o que és
é como ter um filho
e não amá-lo

Talvez por querer matá-lo
por uma embriaguez 
de prováveis projetos

Aspirações fracas que 
facilmente se derrubam
com um número três.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Egoísmo que persegue


Livros didáticos conseguem massacrar até a poesia da vida. Se para ler tudo o que gosto, que me intriga, ou necessito para sobreviver terei que abdicar do meu conceito de vida, dispensarei ao menos a metade. 
Lerei as noções básicas do manual de sobrevivência, e embarcarei na leitura  de que mais gosto. Me trancarei em um mundo(no meu), absorverei e tomarei nota.

O mundo é muito vasto e o homem... tão pequeno. Se com poucas palavras junto-me a dezenas e marchamos pelo mesmo ideal; com algumas palavras a mais me vejo quase só.

Há traição nos mínimos detalhes. E não só por que mesclam-se culturas e tempos distintos. Cada um com seu conceito disserta sobre o certo e o errado e o egoísmo se sobrepõe.
Como uma justificativa ou critério de qualidade de vida, ou ainda pilar de caráter e molde de consciência ele sempre aparece e, não se enganem, transpassa continentes e dói à flor da pele.

Egoísmo me soa como facada, quando já não se mostram os dentes. Já não há mais sorrisos, ou mesmo amadorismo. Se te crês dono de verdades e apenas um argumento joga por terra teu sorriso, abras a cabeça ou treines mais o teu sorriso.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Por Você


Também posso pintar as mais lindas mandalas e fazer do céu, nosso quintal. Cantar as pedras do nosso caminho, evitar falar o que te aborreça. Tentar forrar as pedras e fazer com que os espinhos brilhem. Mas essa não seria eu.

Evitarei te procurar, e também tentarei não te aguardar. Com alguns sábados te esquecerei - embora a música deva tocar e, sem sombra de dúvidas, cantarei. Pedirei bis, batendo palmas, pensando em te "evocar".

Bailaré como una mariposa y viajaré hasta quedarmonos de cabeza echa. Pues lo que quiero es viajar. Con propósitos personales, mundanos y profesionales. Aprenderé lo que és paciencia y te enseñaré lo que és madurez. Para que comprendas que hay que dejarse llevar. Y todo por su peso cae.

Mar de tiburones



Não consigo imaginar

viver numa cidade

que não tenha  mar.

Mesmo que seja fétido,

que tenha uma orla 

danificada e perigosa,

que seja só para olhar.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Esperança Capitalista



                                            


Agarre-se, enrosque-se, 
grude, se atraque
mas não permita escapar 
a última esperança.

Leia os sinais, 
fique atento, 
não os deixe escapar

Pode ser um adesivo: 
quando deus quer é assim

A placa de um carro à frente: KDE2011

Uma promoção 
que o chama e fala:

com essa roupa irás 
conhecer a pessoa amada

Ou pode ser
apenas mais um 
grito de uma mãe
deveras preocupada

"Chega de farras, vá estudar, 
tudo na vida requer sacrifícios."

Engulimos desaforos diários
para não ferir quem amamos

Acelerando o tempo de 
independência da classe-média. 

Só para podermos
comprar aquele cordão umbilical
banhado a ouro e um respeito importado.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Noite de Setembro



O olho ardendo sob a colcha de cetim
a garganta dolorida, úmida pela fome
Os pés ásperos refrescados pelo vento
o ventilador fazendo o lençol levantar

A escuridão fazendo sala pra burrice
a música me fazendo chorar.
Talvez seja o cabelo, que por desleixo
ficara oleoso e numa piscada
me irritou e me fez chorar.

Mas talvez seja mesmo a música.

É Baden na cabeça! Que me faz chorar.

Ando carente de lenços e de companhias
que não me irritem. E das pessoas que
gosto mas não me habitam (tampoco visitam)

Tudo que vai, volta, mas às vezes a
maré desobedece. Submissa a uma
corrente, muda o rumo, descontente. 
E já com um novo olhar, numa terra
vizinha, mas distante. Cortada por
correntes marinhas e egos gigantes

pulo uma linha, abro mais um parágrafo
dobro a página e escrevo "Por Você"
Guardo na gaveta de assuntos,
entitulada "carnaval". E vou viver.
Ainda nem chegou o Natal.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Verdades no almoço



É preciso não ter medo de se dizer o que quer e arcar todas as conseqüências desse ato. É importante também não confundir "efusividade" com sinceridade. Chega de jogos e artimanhas. Não é preciso escrever difícil, falar bonito, buscar o impossível por confundi-lo com genuíno. O mundo ensina, a dor ensina. O tempo julga sem ironia. Cada dia tem uma forma diferente e cada acontecimento um novo ingrediente. Que fome!

Choro no quintal


Vou fazer um busto negro 
só pra te coroar e pendurar
na árvore mais frondosa 
Vai ser na mangueira,
do quintal de Rio Doce
com as mangas mais frescas
e saborosas que já comi
Vou abrir um bar de chorinho 
pra todo sábado... sem peso, 
nem culpa: pedir um caldinho
e me embriagar.

Noite de sábado


Quando era pequena eu podia passar horas ouvindo Pavarotti. Gritando, cantando e girando na sala. Tinha a mania de rodopiar e ficar a girar, girar, girar... Até que um dia deu em merda. 

Consegui ainda girando, enfiar a cabeça no trinco fixo da porta (aquela parte de metal que fica na parede). A precisão foi tamanha que em segundos a sala ficou coalhada de sangue e eu ainda girava, desnorteada. Foi foda.
Vendo o sangue pensei na hora que iria morrer e só conseguia dizer  "puta que pariu, agora não!".

Milímetros de sangue vazados e doenças e neuroses vividas (não necessariamente vencidas), cá estou nessa noite de sábado esvaziando a oficina do diabo.

Me sinto presa na imensidão dos meus sonhos. E constrangida por tê-los. Coisa de burguês, né? Ou de um puritanismo escrachado, de fachada? Talvez.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Impressões



Primeiras palavras

Tudo que escrevo, as palavras que aqui transcrevo, todas elas vêm do coração. Tudo que faço, mesmo sendo precipitado, é resultado de traumas e ilusões que por anos nutriram o coração. 

Tudo o que não escrevo e guardo aqui no peito, deixo pra te dizer mais tarde. Se algum dia tivermos um encontro de verdade, e conversarmos sobre a vida, dos astros ou comida, das coisas que lemos, das que conhecesses e das que supomos, com interpretações vastas.

* * *

Primeiro encontro

Tem que ser belo e sincero. Nada de divagações ou informações que queiram impressionar. Pode ser até nervoso, mas que depois de minutos ria frouxo. 

Ou que eu sinta aquela sensação boa de rir com os olhos e beijar com as mãos, só para não quebrar o encanto, que num futuro próximo, provavelmente, estragaria tudo, só para não perder a razão.

* * *
Primeiros defeitos

Tenho que deixar de ser orgulhosa e passar a, ao menos, admitir que tenho muitos defeitos. Mas que, por hora, esse basta.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Moça Cult




Peça filmes emprestados,
 livros, vinis e mp3.


Se vista da mesma forma,
vá ao mesmo cabeleireiro,
compre nas mesmas lojas.

Beba o mesmo álcool,
faça do meu, o seu bar favorito.

Conte histórias semelhantes
de viagens e amores constantes.

Pergunte a marca do esmalte
do perfume, da bolsa e do sapato

Pergunte se tenho irmãos
e se algum já está no papo.

Freqüente a mesma faculdade
seja noctívaga na minha cidade.

Fique com os mesmos caras
roube temporariamente todos os
meus amigos e os leve à sua casa.

Continue a dissertar coisas
superficiais e com um sentido
extraído de sua biblioteca virtual


Se mostre toda, ande nua e sem pudor. 
Dê a cara a tapa, cave sua vala!


Depois pergunte a si, se quer
ser igual a mim ou só está 
infinitamente carente


Precisando de uma surra
ou atenção da gente.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Pensamentos Voláteis



Vejo o povo pela janela
e o dia passa mais rápido

Vejo homens,mulher velha
 e um rapaz esquisito.

Rosto branco,cabelo ruivo
 e um colar de latão.

Num bairro popular, com
carro popular, rosto familiar

Eu poderia amá-lo.
Posso amar os
mutilados de alma

Os mais carentes
de desejos que
contradizem
o medo

Mas eu não quero.
A chuva vem, o fumê
escurece o carro

Em meus devaneios
imagino um acidente
e uma ligação

Eu,
toda ensanguentada,
com pernas dormentes
sussurro ao plantonista:

Diga-lhe que não o amo,
mas poderia amá-lo.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Final de Julho


Nasci no dia vinte e sete, do sete, de mil novecentos e oitenta e sete, às sete horas. Meu número da sorte é 6, não sei por que, mas é. 

Meu nascimento estava previsto para depois do dia 29, mas cismei de nascer no dia do aniversário da minha avó.

Em toda minha infância tive aniversários felizes, sempre um bolo com três velas - uma para mim e duas representando a idade de minha avó - coleguinhas, brigadeiro, cachorro-quente, música, etc...

Naquela época era viciada num vinyl de Miriam Makeba e sempre pedia ao meu pai - cadê a música da pulga? eu quero! - e todos os convidados em miniatura começavam a pular e dançar o que eu sempre imaginei ser "tá com pulga na cueca, pati pata pata" (sempre fui péssima de ouvido e sou pior ainda cantando). 

Na minha adolescência as coisas já começaram a mudar, eu tinha quase sempre que ceder e ir comemorar "meu" aniversário na casa da minha avó. Após tantos anos cedendo ela cansou de ouvir o pata pata e eu tinha que entender e zé-fi-ni (palavras da minha mãe).

Passada a puberdade, comecei a me preocupar como seria triste meu aniversário depois que minha avó materna viesse a falecer. Seria sempre aquele vazio, aquela alegria chorosa que minha mãe iria ter todo 27/07. 

Eu não teria mais que comprar presente, não veria mais da metade da minha família materna ou pessoas do terreiro, não comeria mais manjar dos deuses e o tradicional salpicão da minha tia. 

Supunha que seria triste, mas como quase sempre a teoria chega a ser infinitamente menor que o mundo real. E, é. Demorei anos a me acostumar com a ausência, até conseguir enxergar essas datas de forma diferente. As vida torna-se difícil quando falta um pedaço na gente.

sábado, 17 de julho de 2010

Idiotia secular



Jamais escrevi, acreditando escrever, jamais amei, acreditando amar. Como obter a maturidade que só chega com o tempo, sem contrapor-se ao tempo presente? A sede de viver cega aos famintos e sedentos. 

Esse desrespeito secular que as mulheres têm por si mesmas sempre me pareceu um erro catastrófico, essa mania de medo de ser subjugada vem de berço. É do berço que começa toda essa merda. 

É preciso esforço para construir uma muralha por trás de um horizonte tão delicado. Um esqueleto e músculos não bastam, é preciso mais. Uns gramas a mais de alma em cada mente contemporânea.

Hoje queremos nossas conquistas do bolso ao coração. Ser romântica nesse século custa caro e normalmente nunca valemos o preço que cobramos. Já o príncipe encantado, se algum dia existiu, se foi, levando consigo toda a áurea que nos encandeava.  

Como permanecer firme e fiel na linha de pensamento que acreditamos sem nos desviarmos pela euforia dos transeuntes e seguir naturalmente a evolução dos princípios e raciocínios? Agora é a época da barbárie.

Sinceridade acima de tudo, exigimos, e somos apunhaladas por rostos conhecidos e sorridentes. Lealdade, suplicamos em nossas mais constrangidas rezas por confundi-la com fidelidade.

O desapego falado com tanto alarde, explicado com tanta minúcia é resultado das experiências, das tentativas de menos baques, menos frustrações, menos surpresas. Esse "objeto de desejo", essa abstração como lema da noite e da vida é um escudo, um tijolo a mais para que a muralha se fortaleça e cresça. 

Eu nunca gostei de jogar.