segunda-feira, 19 de julho de 2010

Final de Julho


Nasci no dia vinte e sete, do sete, de mil novecentos e oitenta e sete, às sete horas. Meu número da sorte é 6, não sei por que, mas é. 

Meu nascimento estava previsto para depois do dia 29, mas cismei de nascer no dia do aniversário da minha avó.

Em toda minha infância tive aniversários felizes, sempre um bolo com três velas - uma para mim e duas representando a idade de minha avó - coleguinhas, brigadeiro, cachorro-quente, música, etc...

Naquela época era viciada num vinyl de Miriam Makeba e sempre pedia ao meu pai - cadê a música da pulga? eu quero! - e todos os convidados em miniatura começavam a pular e dançar o que eu sempre imaginei ser "tá com pulga na cueca, pati pata pata" (sempre fui péssima de ouvido e sou pior ainda cantando). 

Na minha adolescência as coisas já começaram a mudar, eu tinha quase sempre que ceder e ir comemorar "meu" aniversário na casa da minha avó. Após tantos anos cedendo ela cansou de ouvir o pata pata e eu tinha que entender e zé-fi-ni (palavras da minha mãe).

Passada a puberdade, comecei a me preocupar como seria triste meu aniversário depois que minha avó materna viesse a falecer. Seria sempre aquele vazio, aquela alegria chorosa que minha mãe iria ter todo 27/07. 

Eu não teria mais que comprar presente, não veria mais da metade da minha família materna ou pessoas do terreiro, não comeria mais manjar dos deuses e o tradicional salpicão da minha tia. 

Supunha que seria triste, mas como quase sempre a teoria chega a ser infinitamente menor que o mundo real. E, é. Demorei anos a me acostumar com a ausência, até conseguir enxergar essas datas de forma diferente. As vida torna-se difícil quando falta um pedaço na gente.

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