terça-feira, 31 de março de 2020

D.écimo quarto dia

A primeira vez que tive um ataque de pânico eu não sabia que ele existia. Obviamente já havia lido sobre e até tinha uma amiga ou outra que sofria disto. Eu estava bem longe de casa, no alto sertão. Não sei qual foi o motivo, que chamam de gatilho, mas me lembro que quem procurei não deu tanta atenção assim como eu achava que deveria.

                                                         
A segunda vez que tive um ataque de pânico eu já sabia que ele existia mas não sabia que estava chegando novamente. Estava neste mesmo quarto que estou agora, da casa dos meus pais em Jardim Atlântico. No quarto de chão de tacos, que eu sempre achei que deveria ser meu, mas foi dado ao meu irmão assim que chegarmos a este bairro.


A terceira vez que tive um ataque de pânico eu estava na Várzea, achei que iria morrer. Depois desse dia muita coisa mudou na minha vida. Eu nem moro em Pernambuco mais. Embora escreva daqui e daqui nunca queira sair.


Na quarta vez que eu tiver um ataque de pânico espero ter um vidro de floral ao lado, ou uma bacia sanitária para vomitar, um ombro amigo, talvez, como eu tive no segundo ataque.


Fico me perguntando como nosso próprio corpo pode ser tão traiçoeiro ao ponto de nos deixar tão vulneráveis assim. Eu sempre me sinto bem depois de você ir embora. Eu sempre me sinto muito melhor quando você não vai embora. Mas me sinto péssima quando você avisa que está indo. Que tá vazando mais uma vez da minha vida.


                                                                                    Olinda, 30 de março de 2020.

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