sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Em crise

Estou ouvindo Jards Macalé no alto sertão de Pernambuco. Lá fora há vida. Quero crer que estou de tensão pré-menstrual e meu mundo não está desabando sob meus pés. Enquanto a música toca dramaticamente nas alturas aqui nesse quarto a luz pisca, eu olho para os objetos que arrumei irracionalmente na mesa que não é minha,  na mesa em que não vou ficar, e confiro pela segunda vez se eu trouxe a lanterna que minha mãe me fez comprar quando passei em um curso noturno na federal. Desliguei o celular, minha gastrite está atacando e eu só penso em ir lá fora pedir uma pizza e comer vendo Netflix, mas sei que vou chorar. Não quero mais isso.

Gostaria muito que qualquer outra professora substituta mulher houvesse vindo junto comigo. Lembro que da vez passada quando vim à Ouricuri uma professora veio comigo, evangélica, jovem, recém casada. A convenci que deveríamos muito conhecer a noite de sexta-feira de Ouricuri e fomos, a pé. Perguntamos ao dono da pousada se havia uber, ele perguntou "o que é isso?", explicamos que era uma espécie de táxi mais barato, ele retrucou que já havia andado de táxi alguma vez, mas que na cidade existiam vários pontos de moto-táxi. Agradecemos e fomos a pé, falando do pouco da pouca estrutura da cidade que mal conhecíamos. Lembro que bebi, pensando em tudo e em ninguém, mas quem chorou foi ela, sem beber, em plena sexta, a plenos pulmões, falando de problemas pessoais que tinha com a mãe. Um gatilho ativado ao falar da festa de casamento, e do carinho que sentia pelos avós, mas não pela mãe. Ela como cristã vive esse conflito interno de haver brigas com a mãe, ela é evangélica, a única da família. A mãe não entende porque ela entrou na igreja. Lembro que ela não me deixou dormir, me fez contar todos os causos amorosos que tive, parecia estar se deliciando como uma leitura de um romance. Dias desses encontrei com ela e falei do amor da minha vida. Ela quer marcar um café para eu contar tudo, tenho evitado. Hoje eu gostaria que ela estivesse aqui. Naquele dia não, naquele dia ela não me deixou descansar, quando eu parava de falar sonolenta, imergindo no sono ela me despertava na cama solteira ao lado. Ia ser difícil descansar de qualquer jeito, o quarto era infestado de ácaros.

Hoje eu quis retornar àquela pousada, por ser perto do centro e haver a possibilidade de ir sozinha para algum bar. Beber e tweetar. Quem sabe mandar uma foto para o menino que eu gosto, outra pro meu pai, a mesma para mãe e irmão. Só pode ser TPM. Estou muito sentimental. Pensei em fazer outra promessa. Mas pensei em começar a não fazer promessas. Para a santa. Talvez comece a fazer para mim, e cumprir. Tudo está pesado dentro de mim e reduzo facilmente a pequenos atos irracionais, como o desejo louco de comer uma pizza e ficar de boa com isso. Ninguém me entende. Será mesmo? Às vezes penso se ajo para que ninguém me entenda porque fico feliz com esse não entendimento. Talvez não ser entendida me satisfaça nessa sociedade. Talvez não ser entendida me magoe entre os meus. Difícil ser eu. 

Encomendei dois florais. Estou pensando em como eu precisava de um agora. Sentei com um começo de crise de ansiedade e abri o computador e comecei a escrever. Está passando. Talvez eu seja dessas doidas compulsivas que em crise flui tudo. Talvez eu esteja bem em me aceitar finalmente assim. Eu queria gritar pro mundo a dor que estou sentindo, mas ninguém me entende, acho que nunca vai entender. Talvez eu realmente não saiba me expressar. Pode ser. A luz acabou de queimar.

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