segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Esquadrinhando

"Vocês sabiam que existem mais de 4.200 Luandas no Brasil?" 

Eu disse uma vez em uma aula de Lógica Simbólica quando o professor colocou meu nome como se fosse algo exclusivo e identitário meu, como se o fosse, e o é. "Vocês sabiam que existem mais de 4.200 Luandas no Brasil?" Nesta mesma semana discutimos seriamente —ao meu ver— pela primeira vez por telefone. Acabou. Tudo estava acabado e àquela sensação arrasadora tomou conta de mim, e me vi gritando por um aparelho no meio do estacionamento do antigo prédio em que eu  estudava.

Estudei quatro anos no Centro de Filosofia da UFPE, quatro anos de sentimentos mistos de aventura. Apenas oito anos depois ele veio fazer sentido para mim, o prédio. De lá, ouvi histórias do meu pai, dizendo que sentava com os amigos no "pau do poeta" algo assim, e filosofavam sobre a vida. Lá passei pela primeira vez para um curso superior, eu iria estudar Filosofia, mas desisti e fui estudar Geografia. Também foi lá onde vomitei minhas primeiras ressacas de paixão, no ano de 2007. Igualmente onde cortei o cabelo de uma amiga pela primeira vez. Este ano eu voltei, após dez anos sem pisar no sexto andar, renovada e feliz. Lá, fiz grande amizades, escrevi alguns poemas, li livros arrasadores que quase fizeram eu me atirar do décimo terceiro andar.

Lembro do dia em que puseram tela nos janelões das varandas do edifício e eu ouvi uma piada machista de um esquerdomacho amigo meu, que sempre tentou me comer e eu nunca dei, graças a deus. Ele falou: agora sim, tá parecendo um galinheiro. Hoje em dia ele mora no Rio, cidade que ele considera fácil deitar qualquer mulher em sua cama. Estava implícito que ele se referia às mulheres, embora não tenha dito. E veja, ele era o galinha da Geografia, o galinha legal já que nunca fez galinhagem comigo e minhas amigas, mas era o galinha sim. 

Quatro mil Luandas no Brasil. Quatro anos de geografia para nunca haver pesquisado sobre nenhuma outra Luanda. Quando era adolescente fiz amizade com uma Luanda, por uma rede social que bombava na época, o fotolog. Uma vez fiquei com um menino em Garanhuns. Eu estava completamente consciente que estava bêbada. Já era de manhã. Eu havia dito pro meu pai que iria para um luau no Janga ou em Boa Viagem, não lembro, e fui parar no TIP com minha melhor amiga para um bate-volta louco em Garanhuns. 

Pois bem, já era de manhã e minha amiga estava se agarrando com algum cara e eu só pensava na hora em que o ônibus sairia de Garanhuns rumbo ao Recife. Esse cara bonito veio me beijar e eu permiti. Não lembro se queria. Por motivo de pressa e cachaça passei meu telefone. Dias depois ele ligou. Ainda não entendo, nem me recordo porque dei o número do telefone de casa. Pedi para meu pai dizer que eu não estava. Ele mandou e-mail. Não respondi. Ele escreveu um poema.

Anos depois ele casou com outra Luanda, essa que eu conheci através do fotolog quando era adolescente. Ainda sou louca para perguntar se ele findou dando o poema a ela, afinal era outra Luanda e a poesia para Luanda já existia. Nunca perguntei. Há alguns semestres eles se separaram e ele retomou à fixação sazonal de ser legal em forma de verso. 

Houve uma noite em que estava acompanhada no meu bar predileto da cidade e ele mandou uma mensagem, do nada. Não havia nenhuma outra conversa anterior, mas a mensagem chegou. 

As mensagens têm esse poder, elas chegam e você não sabe o que fazer com elas. Não fiz nada, nem sequer refleti sobre o tema. Meses depois estou aqui refletindo metade sobre. Talvez ainda não tenha digerido o suficiente. 

Recebi alguns poemas no caminho, de outro rapaz também. Foda de ter o nome Luanda é que os esquerdomachos da cidade não podem ouvir uma música com seu nome que vêm querer fazer poesia ou graça com isso. E eu não estou aberta para nada disso. Não estou. 

Não me importa se você vai me mandar uma mensagem às 6am dizendo que como Alceu Valença você ao acordar pensa "Luanda, Luanda, onde estáis?". Ou como o outro que me beijou uma vez e tirou um poema da manga. Ou, ainda, como um ex, que ganhou um concurso de poesia com um poema dedicado a mim. Vocês me agoniam, fazem com que eu me sinta mal. Eu só quero sair e beber com minhas amigas em paz, e pensar, e lembrar, e chorar, e falar dele. Ouvir argumentos contrários só para ter mais certeza ainda deste meu sentimento. O homem que eu gosto não gosta de mim. 

2 comentários:

  1. "O homem que eu gosto não gosta de mim." :,(
    É por isso que sou má e não tenho crush kkkkkkkk

    ResponderExcluir
  2. Slots Casino Software - Dr. Dr. McD
    Slots Casino Software. Experience over 1000 의왕 출장마사지 casino games from 전주 출장안마 the finest software providers and top-notch desktop & mobile 문경 출장샵 slots games to play for 경주 출장안마 real 강릉 출장샵 money!

    ResponderExcluir