quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Ao camarada José

 25 de janeiro de 2019
        (primeira carta)


Tudo o que eu queria te dizer e não disse eu sussurrei olhando para ti, enquanto me abraçavas naquele abraço imenso que incrivelmente me cabia inteira, físico-emocionalmente. Por algumas vezes eu me assustei pensando que você me lia. Mas acho mesmo que era apenas expectativa de uma provável paixonite aguda, de uma não-principiante.

Lembro-me bem que uma vez, sentada no seu pau, você chegou a me perguntar com aquele sotaque insuportavelmente conquistador, desse idioleto cultural que você criou entre o Rio que te navega e o Rio que te traz:

  
— Que olhar é esse? Você tá querendo me dizer alguma coisa, Luanda? 

Foi em uma dessas vezes, duas, mais precisamente, em motéis diferentes, da nossa tour de motéis, em que pensei insanamente. E só, e somente só para desafiar o destino falei mentalmente:

— Eu te amo,  meu Zé, e não quero que tu saias nunca de dentro de mim. 

Mas falar essas coisas assusta a quem ouve e a quem diz. Eu poderia até fazer alguma paráfrase louca agora com algum poema de Neruda, ou de Benedetti tentando explicar esse sentimento que há em mim. Mas não quero guiar sua interpretação para nada. Estou aqui apenas escrevendo e pensando “nunca vou enviar essa carta, ainda é muito cedo para tudo isso”.

A vida foge a qualquer script, não é? Jamais imaginaria que no ano de dois mil e dezenove, chegando aos meus trinta e dois anos eu me apaixonaria novamente, logo eu que não estava buscando absolutamente nada, que estava bem cômoda no meu não-relacionamento de seis anos. É possível até que eu estivesse evitando tudo isso e, Deus sabe como tentei, e rezei, para encontrar um caminho de sensatez e de luz que me guiasse para o mais viável e menos doloroso sendero. 

Mesmo assim, como toda boa pagã brasileira, findei recorrendo a outros caminhos para ter certeza do que eu sentia.

Eu imagino tu rindo e revirando os olhos agora, “falando de Deus, vai falar do Mapa Astral agora pra justificar as coisas, ela é doida, ou se faz de doida”. E não sou nada disso.

E chegou o danado do Mapa Astral, ou melhor, o Mapa de Trânsitos onde incrivelmente apareceria um leonino que iria virar meu cotidiano de ponta-cabeça. 

Ainda lembro das palavras de Mesquita, o astrólogo, falando que um Professor; Leonino; Inteligente;  e Viajado; iria aparecer para mim e eu teria de me decidir, que se eu ficasse com ele teria até que mudar de estado. Para, pô! Só acho que isso é Deus mangando de mim, lá de cima ou de onde quer que esteja. Não tinha como aquele rapaz saber de sua existência, não tinha. Nem do seu signo, nem de outras coisas que ele falou lá também. 

Eu sempre acreditei que destino é a gente quem faz. Por mais que eu creia que existam "coisas predeterminadas" na vida que a gente vai ter que passar, a gente pode vir a adiar, adiar para sempre, ou enfrentar de uma distinta ótica. 

Eu, que sempre estrago tudo, não queria ter que decidir nada. Por que não poderia empurrar com a barriga uma vez mais, como tenho feito durante todos estes anos? 

Mais uma vez não decidi nada, minhas ações precipitadas tomaram prumo e resolveram a questão. Te afastei, te envergonhei e te perdi. E com sinceridade desesperançosa te digo que eu não sei como te colocar de volta na minha vida.

Eu tenho muito mais coisa pra te falar, mas acho mesmo que apenas pessoalmente, se eu conseguir te levar ao aeroporto. Isso que não foi dito aqui, ainda estou regurgitando e estou processando (essas palavras agora são minhas) para tentar entender o quê e como tudo isso aconteceu.

E eu sei que já te perdi, Zé. E dói saber disso e não ter tempo de fazer nada, absolutamente nada. Hoje, sexta-feira santa eu só temo te perder de vez e ficar com esse vazio para sempre, que bem poderia ser ocupado por um leonino arrumado&arengueiro.

Um beijo, vou estudar.

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