Você é gentil, obrigada por me
ignorar. Prefiro interpretar esses sinais como gentileza. Afinal você nos
poupou de todo o drama, deixando apenas a mim decidir se haveria drama solo ou
ressacas com drama. Você é gentil, mas é egoísta.
Você é gentil, egoísta, e eu
devo ser louca. Não completamente louca, mas aquele dedinho de loucura que faz
toda adolescente parecer desatinada. Não sou mais adolescente, mas a medida é a
mesma. Se fosse amor seria mais fácil de explicar. Tem dias que eu acho que é,
tem dias que eu acho que não. Pessoas experientes, com filho, compartilham
coisas no Facebook sobre o amor e o desamor, elas falam que se você está na
dúvida, não deve ser amor. Eu sempre achei o contrário.
Nunca soube explicar direito
porque amei fulano, aquele Fulano mega estúpido e idiota, e eu amava. Ou achava
que amava.
O bonito da vida é isso: ver a evolução do amor e ver a evolução que
o amor nos traz. Não quis nunca ter aquela sorte fodida de livros e filmes que
se tem um amor só pra toda vida. Já tive um, não mais que um, talvez você seja
o segundo. Não sei.
(Só de escrever isso sinto uma revolução na barriga e um
arrepio no braço... procuro sempre explicações plausíveis pra tudo nessa vida,
a revolução pode ser do regime de fome que ando fazendo, o arrepio pode ser
porque no nosso Recife louco, hoje choveu e, está frio lá fora. Meu lado
esquerdo está vibrando de ansiedade enquanto engulo com dificuldade o resto de
saliva com gosto de café.)
Faz muito tempo que não escrevo e
se voltei a escrever, você realmente deve significar algo. Veja só, se o amor
amadureceu em mim, a escrita também, agora consigo escrever sem lágrimas, eis
aqui uma nítida evolução em meio a tanto desatino. Não sei se o tempo se
apresenta a mim como um aliado, realmente não sei. O fato é que ele está sempre
presente, correndo e me desafiando a postergá-lo. Não sei quando vou te ver
novamente e se quando a gente se vir eu devo agir como se o tempo não houvesse
passado. Aliás, eu sei como vou agir. O problema é que sempre espanto os caras
que gosto pelo meu modo de agir.
Veja só, eu não tenho medo ou problemas em
demonstrar como eu me sinto. O problema é que a pessoa vai se sentir como se
houvesse um holofote na cara, um sol inteiro só pra si. E que não venham me dizer que é
problema do meu signo, pode até ser, mas sou assim.
Isso me lembrou uma história com
um ex que na época nem namorado havia chegado a ser. A gente tava de mimimi na
pracinha perto de casa e o cabra vem e fala:
– Lulu, acho melhor a gente não
ficar mais.
Primeiro, que apelido é esse,
Lulu? Voltei ao jardim da infância? Nunca gostei desse apelido na escola, onde
os pirralhos faziam analogias ao meu nome sempre fazendo-o magicamente derivar
para Lulu, Luluzinha, A-Lua-Anda, etc. Eu, perplexa, e com raiva daquela
rasteira no meu território, tão perto de casa, repeli:
– Mas porque, Fulano? Eu gosto tanto de você.
E o cara escroto veio com um papo
nada a ver dizendo que a gente deveria ter uma relação aberta, que eu deveria
ficar com outras pessoas e que era o que ele iria fazer. O amor na modernidade tem um
tempo e ritmo únicos, só sentindo pra
saber.
Como todo recifense moderno o rapaz dava uns perdidos, sumia. Eu, que
sempre interpretei as coisas erradas, entendia esse sumiço como falta de
coragem para terminar a nossa não-relação boazinha, e o que eu fiz? Achei que
estava livre e fiquei com outras pessoas:
– Eu não sabia que a gente tava ficando ainda. Eu fiquei com outros
caras.
– Como é?
– É po, tu sumiu, eu não sabia. Veja só vei, eu quero ficar só com você.
Eu gosto de você.
– Mas eu achei que tu tava apaixonada, que porra é essa de outros
caras?
O final da história não é de
novela, obviamente. A gente se separou e cada um seguiu sua vida.
Pois bem, se
o tempo pode não ser um aliado, a má-interpretação é rainha em minha vida, então como eu poderia expressar a medida exata do meu querer? Sentimento não tem controle
remoto pra dar uma pausa, respirar e controlar a temperatura. Na verdade, o preço de ser sincero é a solidão.
"Não quero amar/
ResponderExcluirNão quero ser amado/
Não quero combater/
Não quero ser soldado./
- Quero a delícia de poder
sentir as coisas simples!"
(Manuel Bandeira)