quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Conselho de avó


Minha avó era daquelas moças de interior de Pernambuco, que casou fugida dos pais e menor de idade. Ela sempre me contou a história bonita dela, de que ao nascer meu avô a pegou no colo e falou: vou casar com essa menina. Mas homem é homem, né? Pois é. E meu lindo avô não fugiu à regra. Ele viajou para São Paulo e só desposou minha avó no regresso da viagem. E tiveram três lindas filhas, a primogênita foi mamãe!
Na minha infância sempre passava as férias lá na casa dos meus avós, era uma alegria danada, era só chegar o primeiro dia de férias e eu estava lá, sorrindo, cantando e correndo ( e levando grito do meu avô - menina, olha o jarro! ). Eram férias com sabor de carambola, de algodão-doce, de voltas na praça, com vista de beija-flor na janela do primeiro andar. Não esqueço nunca da alegria da minha avó uma vez que ao chegar eu cantei "eu voltei, voltei para ficar, por que aqui, aqui é meu lugar" e minha primeira música no violão, foi para agradá-la "Pode vir quente que eu estou fervendo".
Ela era fã dos Carlos ( Roberto&Erasmo ) mas não disfarçou a careta ao ouvir a música batida nas cordas de aço do violão di giorgio. Pouco tempo depois desisti da música. Foi uma breve carreira, mas também não gostava muito das aulas de solfejo do Conservatório de Música em Olinda - CEMA, sempre entravam morcegos nas manhãs de sábado e eu tinha que abafar gritinhos para não perder o compasso da turma inteira.
Convivia muito com meus avós, nunca quis medir amor, mas às vezes me flagrava com esses pensamentos: de quem eu mais gosto, qual dos dois mais gosta de mim? Bizarro, mas eram pensamentos de uma criança de oito anos e que agora mais velha, se flagra pensando ainda esse tipo de coisa, porém com relacionamentos amorosos.
Não tenho boa memória para muitos acontecimentos, mas de conselhos da minha avó dois me marcaram. Dona Eurídice estava presente quando eu levei meu primeiro fora, e cheguei em casa tarde num dia de férias e de cara inchada. Era São João ( analisando friamente agora, talvez se explique minha aversão à essa época festiva do ano ) e eu tinha acabado de perder meu segundo relacionamento em menos de 7 meses e aos 17 anos.
Ela me falou - seu erro foi ter se entregado demais, minha filha. Nunca ame demais assim, ou ame, mas não entregue o ouro ao bandido. Sábia voz da experiência, e eu, teimosa, cometi o mesmo 'erro' com todos os outros três relacionamentos seguidos. Que, obviamente não existem mais. Dois vão ser pais e outro namora uma ex-amiga minha (ironia ou peça do destino?). No mínimo um pouco frustrante e temeroso de tentar qualquer outro relacionamento, não acham?
Mas o outro conselho da minha avó não foi para mim, foi à minha mãe "A gente cria os filhos pro mundo, minha filha" , e é. O mundo é vasto, o mundo é cão, e se não é uma pessoa amada e próxima a você quem lhe ensina, você sofre ainda mais ao se deparar com a rua na porta do coração. Dei minha cara à tapa quando decidi amar sem regras e continuo dando até hoje.

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